PÚBLICO LGBTQIA+ TAMBÉM TEM SEU LUGAR DENTRO DOS ESPORTES ELETRÔNICOS

O preconceito sofrido pelo público LGBTQIA+ (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, intersexuais, assexuais, entre outros do gênero) vem desde muito antes do ‘boom’ dos esportes eletrônicos. Este cenário foi apenas mais um para mostrar que pessoas com este perfil estão presentes em várias camadas da sociedade. A resistência é uma das principais forças para mostrar, aos que insistem em seguir com o preconceito, que a luta é diária e contínua.

Foi por conviver com as dificuldades de serem aceitos e fazer questão de firmar o pé no meio dos e-sports que foi criada, em 2018, a Gayrena, uma das primeiras equipes do país de esportes eletrônicos formada pelo público LGBTQIA+.

Unicórnio: muito mais que uma identidade visual, símbolo de resistência da Gayrena

“Sabíamos da falta de uma referência deste público dentro dos e-sports, existia essa necessidade. A comunidade gamer é muito tóxica, isso é uma realidade e não uma suposição. Nossa equipe é um refúgio para mostrar nossa presença no cenário competitivo para combater esse público altamente preconceituoso. O nosso nome é, propositalmente, tendencioso, para mostrar nossa referência e impor a importância de termos visibilidade na comunidade dos esportes eletrônicos”, afirma Lucas LaLa, líder e criador da Gayrena.

A equipe viu um dos momentos mais turbulentos acontecer em 2019, na 1ª edição da Liga Brasileira de Free Fire (LBFF), jogo desenvolvido pela Garena. Aproveitando o nome da empresa, Lucas e outros integrantes tiveram a ideia do nome da equipe, que não demorou a ter repercussão negativa junto a alguns influenciadores. 

“Eles questionaram nossa presença, debocharam do nome e isso causou uma repercussão enorme. Disseram que o nome era ofensivo à empresa e fomos retirados da liga. A internet se revoltou, se mobilizou e foi uma grande confusão. Foi um ato claramente homofóbico, nos ridicularizaram. Fomos prejudicados, eles nem conheciam o nosso trabalho. Graças à mobilização e muita luta, voltamos para a lista de inscritos e chegamos até as oitavas de final”, conta Lucas. 

Equipe da Gayrena

O idealizador da equipe viu o incidente com bons olhos por toda a repercussão positiva que a situação também trouxe. “Isso nos abriu portas e nos deu oportunidades, apesar

de todo constrangimento que foi causado. Queremos ser uma referência e dar visibilidade para comunidade gay dentro dos jogos eletrônicos”, pontua. 

A equipe chegou a disputar uma segunda edição da LBFF, resistindo ao preconceito que não foi cessado. “O preconceito segue, mas hoje se tornou crime. Conseguimos expor essas pessoas, sermos mais resistentes e lutar pelos nossos direitos. O combate ao preconceito vem da informação. Muitos que não têm cara e são fakes nos julgam e nos humilham, é tudo por uma questão de ignorância, por uma falta de posicionamento”, garante, lamentando que quem poderia fazer a diferença prefere se preservar e não se expor por uma causa que não lhe convém.

“Muitas pessoas influentes poderiam realizar conteúdos pedindo respeito para nossa comunidade, não estamos pedindo favor para ninguém, é o direito que temos de sermos respeitados. Estes influenciadores preferem não tocar no assunto e seguir com conceito e conteúdos fúteis. Por que não tocar no assunto?”, indaga. 

Mais do que a presença da equipe, sua missão, seus valores e suas lutas fazem a diferença para a aceitação plena de um público que é tão igual quanto qualquer outro, com o cenário atual ainda precisando ser descontruído. 

“Muitas empresas colocam logos coloridas no mês do orgulho gay, mas não realizam iniciativas nem dão oportunidades que incluem este público. Vamos seguir buscando mais equilíbrio e respeito, nossa missão é trazer inclusão. O preconceito velado, de tabela, ainda existe e queremos conscientizar as novas gerações para que eles tenham outra visão”, sinaliza.

“Ninguém merece ser julgado, a não ser pelo trabalho que realiza. Nossa equipe quer fugir do lugar comum, fugir do óbvio. Na visibilidade e na inclusão que estamos propondo somos pioneiros, queremos que todo esse barulho não seja em vão. A diversidade dentro da liga será um marco histórico, contando com a Gayrena, que é o corpo, a mente e a vez da comunidade LGBTQIA+ dentro dos e-sports”, completa. 

Por Daniel Ottoni

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