E-SPORTS É CAMINHO DE LIBERDADE E IGUALDADE PARA GAMERS COM DEFICIÊNCIA

PCD`s mostram talento e potencial, tendo nos esportes eletrônicos uma válvula de escape responsável por transformar vidas

O mundo dos esportes eletrônicos abre espaço para pessoas de qualquer idade, gênero, raça ou religião se encontrarem no ambiente virtual. Basta ter interesse para se desenvolver em diversas opções de entretenimento, que podem ir além de um mero passa-tempo para quem se adaptar bem à realidade digital. 

O lado positivo de estar atrás de uma tela é todos serem iguais, sem distinções, uma realidade não muito comum para deficientes, que se acostumaram com olhares e pensamentos incômodos, além de bullying e preconceito. Alguns deles mostram talento e capacidade para competir de igual com qualquer adversário, jogando por terra a impressão de outros sobre suas limitações. O Brasil teve apontado que 5% da população era composta por pessoas com deficiência auditiva, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE). Isso equivale a mais de 10 milhões de pessoas.

Rafinha: paixão por games está no DNA


“Dentro do jogo somos todos iguais, não existe limite. É uma liberdade que, às vezes, muitas pessoas não têm no seu dia a dia. Meu pai sempre foi gamer, me apaixonei desde muito novo. Quando comecei a jogar no mesmo nível de outros jogadores sem deficiência, tive a certeza que eu era igual a todos. Desde cedo, meus pais me ensinaram que minha deficiência nunca me limitaria, que poderia ter um pouco de dificuldade ou ter que fazer de outro jeito, mas que nunca teria que desistir na.primeira tentativa”, revela Rafael Prestes, o Rafinha, de 13 anos, que nasceu sem a mão esquerda. 

A liberdade citada por Rafinha é compartilhada com Diego Mateus, também conhecido como Guerreiro Tetra, tetraplégico de Orleans (SC), que contou com ações solidárias para poder ter o mesmo sentimento de qualquer outra pessoa. “Os esportes eletrônicos são importantes por proporcionar oportunidades de lazer, de parceria, de conhecimento, de apoio, de superação, de troca de experiências e, até mesmo, como fonte de renda, ainda mais no cenário atual de pandemia”, coloca.

Guerreiro Tetra: e-sports representa oportunidade

Os games foram um presente para muitos deles, que tiveram a limitação de não poder sair de casa com frequência como uma companheira. “É um assunto delicado, sempre fui anti-social, bem quieto, com vergonha de chegar e conversar com as pessoas. Sempre tive poucos amigos e fazer lives e vídeos me ajudou muito. Ainda sou tímido mas, de fato, ler o chat, conversar com as pessoas e fazer vídeos fez uma grande diferença”, admite João Victor Antunes, de São Paulo, com 18 anos, portador da Fibromatose Hialina Juvenil.

Com 27 anos, Renan Alex Miota, teve nos e-sports a força para superar um dos momentos mais difíceis da sua vida. “Após o diagnóstico de uma doença muscular degenerativa, minha mente foi ocupada por algo muito positivo e estimulante, mesmo com toda a dificuldade de aceitar a nova etapa com dúvidas, medo e desafios. Por meio da força do cenário dos e-sports, realizei sonhos. Antes disso, enfrentei uma depressão severa, tendo como único e melhor amigo o Counter  Strike. A tecnologia me isolou, fui para um mundo acessível. Dentro de um servidor, ninguém vê minha deficiência”, afirma. 

Renan: um novo olhar para o mundo dos games

Renan indica ações positivas no cenário nacional, como a do Projeto Fallen e Amigos, uma iniciativa de inclusão de PcDs (Pessoas com Deficiências) do Grupo Fallen, ainda em desenvolvimento. Ele também lembra de Gabriel Machadinho, streamer que faz lives no SBT e atua na equipe Detona.

“O universo de video game mostra que, independentemente das nossas dificuldades, conseguimos jogar aparentando ser normal, meio escondido. Fico muito feliz de ver que muitas pessoas não nos veem como um coitado, sinto potencial de mudança”, projeta Machadinho. Ele contou com uma legião de apoiadores para arrecadar, pela internet, os R$ 20 mil que precisava para comprar uma cadeira de rodas nova, mais leve e confortável. 

Machadinho: streamer que se destaca cada vez mais no cenário nacional

Guerreiro Tetra também conta com essa força para consertar seu computador, fazendo uma ‘vakinha’ pela internet (ajude clicando aqui).

“Marcas e eventos estão começando a dar mais visibilidade, tem um aumento de pessoas com deficiência ganhando espaço. Mas sabemos que ainda tem muito a ser melhorado, faltam oportunidades”, afirma Machadinho.

“Existem poucas marcas que pensam nos PCD’S. Enquanto ligas, equipes ainda acham que não somos capazes. Sabem que a inclusão é importante mas tem medo de críticas, preferem não apoiar”, indica Rafinha. 

Algumas poucas iniciativas já acontecem com legendas e intérprete de libras, mas com um longo caminho a ser percorrido para fazer este público ter a mesma interação dos outros gamers, além do velho sentimento de liberdade. 

Por Daniel Ottoni

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